Aos 51 anos, começo a mostrar meus poemas inéditos, um a cada segunda-feira, na fé de que tenham valor literário e caiam no gosto dos que levam a vida em versos livres



segunda-feira, 5 de maio de 2014

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Desencanto



Meia de algodão cano alto
Gastou meus pelos da perna:
Vestígios do tempo
Nos cambitos imberbes!
Não me importei:
O par de sapatos que eu calcei
Fincou meus pés sobre a terra
E imobilizou meu querer teimoso
Que era feito de palmilhas reluzentes
E saltos pontiagudos de vontades

Era tudo de que eu precisava:
Não mais voar!
Um pisante mágico
De adormecer a paixão!



Ah se eu soubesse antes
Que essa dor de joanetes no peito
Esse amor de calos inflamados
Essa mágoa de frieiras desiludidas
Tudo isso se aplacava mesmo
Se acalmava tanto e tanto
Só com produtos da Loja de Calçados Curupira
Na alameda de serviços, ajustes e reparos
De um ultra híper mega shopping chamado
Desencanto.

 Fica a dica.




 

 

 

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Obstáculo



 
O que eu queria mesmo
Era meter a mão no seu peito
Ir rasgando tecido por tecido
Ir varando carnes e músculos
Até alcançar seu coração lotado
E arrancar de dentro dessa bomba quente
O único obstáculo da minha triste vida:
A tabuleta que diz “Ocupado”
 
 
 

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Tio na poltrona



 
Quero escrever assim de lampejo
Coisa ligeira, mas funda.
Que demorar não posso não.
Eu bem sei de mim o meu sono.
Sim, eu tenho um sono.
Desses, igual que nem peixe.
Isso! Um sono de pescaria do tio
na sala de visitas da vó
enquanto fala a minha mãe.
Tio que dorme até-inté-de-pé,
Tio entorpecido, anestesiado que só.
É assim que a vida gasta o tio da gente:
Fecha o olho dele
que é pra ver se ele vê
o oco do caminho, a zanga de existir.
Mas que inutilidade é essa?
eita tio que pesca mas num cisma,
tio que nada.

 E olha a hora,
E olha a onda:
Lá se vai o meu desejo
De sujeito e predicado.
Que esse tio fisgou foi forte,
Arrancou meu verbo
Com seu olho fechado
Seu anzol de Morfeu.

 Então, boa noite, ué.
Que eu vou dormir sangrando na boca.
 
 
 
 

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Castigo




Roubar e não poder levar?
Pois sim!
Pra não morrer de vergonha,
Apronto meu bandido
Roubo tudo e levo embora:
Transbordo panela,
Arrebento sacola,
Acendo banana,
Atiro no alarme,
Atraso relógio,
Adio velório,
Ponho as beatas pra fora. 

Mas me apaixono por você
– eis que chega a minha hora.



 

segunda-feira, 31 de março de 2014

Cuspe


Desespero demais:
amar alguém
e nunca saber
qual o gosto
da boca,
porque sua boca
  a ocupam
com  gosto.

Não vê?
Minha pena de morte
são seus lábios
proibitivos.
Como eu queria
o indulto de poder
me abençoar de cuspe,
me zonzear na textura
da sua língua.
Como fazer para orbitar
no céu palato?

Mas fui amar quem já tem dono.
E agora isto: morrer ou morrer.




segunda-feira, 24 de março de 2014

Santo do pau oco



Me chamar de prostituto é pouco
Canalha, vadio, escroto, maluco.
Mas há santidade nos afetos do coração
Por isso não me venham com sermão
Treslouquei e treslouco o que puder
Forniquei e fornico o que mexer
Perpetrei e perpetro o mais que der
Sapequei e sapeco se eu quiser

Porque tudo se anula, seja o que for,
Me resolvo ao voltar pro meu amor